quinta-feira, 29 de maio de 2025
Após a guerra atômica finda -
que sequer houve, senão em campo pixelado -
resta-me o silêncio do motor,
a rua deserta de sentido,
o retrovisor cheio de vidas que não escolhi.
Pensava -
num lampejo entre a marcha e o piscar dos faróis -
sobre como tudo pulsa em condição.
Probabilidades, sim. Mas não livres.
Condicionadas à curva da vontade,
ao leve torcer do volante,
ao simples desejar do querer.
E ali,
houve um saber prévio.
Mirando o gesto antes que fosse.
"Souza Paiol, né irmão?"
Nem cheguei - e já sabiam.
Antes do passo, o trilho.
Porque o caminho que se trilha é o mesmo que se repete,
e o mundo, este espelho de frequências,
não responde às perguntas que não se ousa fazer.
Ele apenas antecipa.
E eu, que ali estava, já havia sido.
Já havia ido.
Levado pelo fio tênue do hábito,
pelo rito calado da decisão não decidida,
pelo pulsar de uma vida que pulsa por padrão,
não por escolha.
Mas ainda que repetido, o gesto carrega o abismo:
cada escolha é o precipício do possível.
Cada direção, um abandono.
Na fumaça do cigarro,
há o traço invisível da encruzilhada.
Sou o ponto onde convergem os vetores.
E o ponto, ínfimo e constante,
decide a linha.
Ainda que não saiba.
Porque as escolhas levam.
E o que nos leva - é sempre o que escolhemos.
Mesmo quando não o escolhemos.
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