O fim da partida não trouxe alívio. Só um tipo diferente de silêncio. A luz da tela se apagando, os dedos ainda tensos, o corpo meio encurvado. Levantei sem pressa. Peguei a chave, fechei a porta, e fui. Não havia urgência. Mas havia direção.

No caminho, o mundo passava ao redor. Sem pressa. Sem ruído. Era como se eu flutuasse entre faixas e faróis, presente e ausente ao mesmo tempo. Pensava. Não por querer pensar, mas porque o pensamento acontecia - solto, inevitável. Sobre escolhas. Sobre as curvas que a gente faz antes mesmo de perceber que fez. Sobre os outros carros, outras vidas, outras rotas. Ninguém ali por acaso. Nenhum destino sem dedo.

Cheguei. Entrei sem dizer nada. Ele já sabia. Um gesto de cabeça. Um nome que nem precisei falar. Estava dado. Como se eu fosse um hábito. Como se já estivesse escrito, desde a primeira vez. Era um roteiro que eu reconhecia sem ter assinado.

E naquele instante, sem nada de especial, entendi: as escolhas levam. Levam mesmo quando a gente acha que está parado. Mesmo quando tudo parece igual ao ontem. Levam pela repetição. Pelo gesto pequeno. Pela ausência de surpresa.

E é ali que mora o risco: não o de bater, não o de errar o caminho, mas o de esquecer que é escolha. Até o automático é escolha.

As escolhas levam. E eu fui.

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