sístole cética, diástole devota

Num céu falto de estrelas, havia uma Polaris.
Havia.
Circunscrevendo meu itinerário por entre mentes e almas incógnitas.
Não mais a há.
Livre e desconcerto continuo nesta profusão por entre corpos e cabeças e lábios e olhares e toques e nuances - ainda anônimas.
Num continium roteiro desconhecido, ainda morno, esvaindo enquanto ferve e principia a evaporar.
Pois ainda havia.
O delito da inexistência de um norte existiu. Sujeito desconhecido ainda que presente.
Num presente em que presentes são escassos.
Num presente em que um raro e oportuno acalanto é valioso.
De tanta valia que transgride a incerteza da dúvida dissipando o anonimato.
Não se engane, o responsável pela violação da rota ainda é a junção de dois seguimentos de retas com o mesmo tamanho (ainda que diminutos) ortogonalmente.
Trajetórias opostas que se uniram ao encontro daquela luz pulsante no céu de uma noite escura e sombria.
Num único ponto singular. Ínfimo e infinito. Que teve seu fim num pulsar destoante.
Não mais o há.
Há agora outro corpo, outra cabeça, outro lábio e outro olhar. Outras nuances.
Nuas.
Guiado por essa nudez carnal pulso. Cada pulsar determinando um novo curso. Na estrada. Na vida.
Posto que viver é pulsar. Vivo.
Vivo desafiando o desconhecido. Vivo a pulsar e buscar um tino. Que tinha. Quietou. Não mais pulsa o que havia?
Afirmo o incerto num pulso duvidoso. Pois se não souber em que ritmo pulso, como poderei pulsar?
O fato é que, de fato, o pulso factualmente pulsa. Até não mais pulsar.
Assim saberei (saberemos); quando o pulsar cessar.
Enquanto pulsamos, mantenho me dúbio sobre a certeza que afirmo não saber.
Pulsar é viver.
Viver é desconhecer.

através de um caleidoscópio

Quando se esquecer. Do que? De você. Pode ser que seja ao atravessar uma tempestade. Imagine se seu cachorro se afogar. Lute com os dentes. Você e ele. Você ainda tem no seu bolso aquela foto que vai ter fazer lembrar. Isso sou eu. Eu sou assim. E dar forças. Pra continuar lutando. Lutar do tupiniquim viver. E viver é colorido. Muito colorido. Tantas cores! E são todas tão lindas. Vão tentar te enganar. Não duvide. Quem? Ninguém. Só quem pode te enganar é você. Mas você é colorido. Sou? Não se engane! É sim, lembra? Lembra daquele som? Aquele da sua infância. Tu turu turuu! Lembro. Guardei debaixo de uma pedra toda colorida. Meu mundo. Por que mesmo que ele se foi? Não conseguia entender. Fui atrás. Aí que chegou a tempestade. Mas já passou. Nos salvamos e continuamos a procurar. Ele, meu mundo. E entender também. Mas que diacho de lugar é esse? Tudo tão escuro e cinza. Sem música. Sem cores. Sem vida. Que sentimento estranho. Nunca senti isso antes. Parece apertado e... triste. Trim trim. Olha! Uma bicicleta. Parece tão divertido. E esse moço tem um negócio esquisito, gente! Esse não faz barulho quando assopro. Será que.. é de olhar? Tu turu turuu... Olha! Que coisa estranha! Não parece nada que já vi antes! Acho que... gostei! Tão colorido!





Narro a vida com lentes inventadas de papel machê. Finjo que sou o que pretendo ser. Afinal ao final serei. Autor da minha própria lenda. Mentiroso. Para Platão, poeta. Para Pessoa, fingidor.
A razão cessa quando um
                                          somos
                                                dois. Se somamos: somos. Irracionalmente realista. Místico. Tão completamente que tinge os limites antes tão borrados. Agora os enxergo com uma clareza sutil. Nítido. La douceur de la vie. Levo a vida com a leve razão dos cafoni. Não crio tipos. Sou consciência.

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